O mar estava em festa
Sua majestade o rei Ripopó, o grandioso peixe colorido que governava os mares a Leste da corrente quente estava feliz. Finalmente a sua sobrinha chegava. O rei Ripopó e sua esposa, a rainha Riamar eram muito amados por todos os habitantes. Nada faltava naqueles mares azuis, excepto um filho para completar a felicidade de todos. Quando já ninguém acreditava que isso fosse possível chegou a notícia da morte do irmão do rei que viajava com a sua pequena filha pelos sete mares conhecidos.
Como era viúvo não existia ninguém para tomar conta da pequena. Os reis mandaram um mensageiro para trazer até eles a sua sobrinha.
Hoje era o grande dia, pois ela chegava a Encanto-mar.
Verdadeiros petiscos foram confeccionados, a música ecoava por todos os recantos do mar e todos os peixes escovavam as suas escamas para se apresentarem belos na grande festa que iria realizar-se.
Quando a noite chegou todo o mar brilhava para receber a tão desejada princesa.
Todos se viraram para admirar a sua beleza. Brilhava como um pequeno sol no meio do mar escuro. Era uma verdadeira estrela, uma estrela-do-mar adornada de brilhantes que todos olhavam.
Ninguém esperava que a princesa fosse uma estrela-do-mar, mas por todos foi aceite e por todos amada.
Os dias passavam e os reis estavam cada vez mais encantados com a sua princesa. De tal forma, que não se apercebiam que por detrás de tanto encanto, Almar era na verdade mimada, arrogante e muito convencida.
Habituados à simpatia dos reis, todos estranhavam as atitudes da pequena estrela-do-mar.
Umas vezes puxava as barbatanas aos peixinhos que por ela passavam deixando-os a chorar de dores, outras vezes espetava as suas pontas afiadas no corpo das anémonas que a tentavam distrair, mas o pior era quando pulava com tanta força no colo dos corais que os magoava ficando a rir-se e a gozar.
O certo é que o tempo passava e a estrela-do-mar ia tornando-se cada vez mais caprichosa e aumentando a maldade com que a todos tratava.
Em Encanto-mar as marés passavam sem que ela conseguisse um único amigo.
De tal forma que quando chegou a sua festa de anos e os reis mandaram uma carta de coral a todos para os convidar para a festa, ninguém respondeu afirmativamente.
Zangado o rei Ripopó mandou avisar que ninguém podia faltar à festa da princesa e, contrariados, todos se preparavam para cumprir a ordem.
Nessa tarde Almar não foi à escola, pois tinha de experimentar o vestido dourado que estava a ser feito com algas vindas directamente das Caraíbas e pérolas preciosas das ostras mais afamadas.
Depois de experimentar o vestido resolveu sair sem dizer nada a ninguém e, como já se achava bastante crescida dirigiu-se às Água Proibidas. Quando chegou a Encanto-mar todos a avisaram que não havia perigo naqueles mares, todos se respeitavam e tudo era pacífico, com excepção das Água Proibidas.
Ali, apesar da beleza aparente e do encanto das cores tudo era muito mau. Para lá das cores do arco-íris as águas eram revoltas, os terrenos pantanosos e os monstros habitavam naquelas paragens.
Almar achava-se mais corajosa que todos os outros e gozava com os meninos da escola que lhe diziam isso. Chamava-os cobardes e medricas e dizia que um dia lhes iria demonstrar que era a estrela mais corajosa de todos os mares.
Nesse dia encheu-se de coragem e foi até às Águas Proibidas. Quando se aproximava ia abrindo os olhos de admiração, tão belas eram as cores que encontrava pelo caminho. Mas à medida que se aproximava as águas foram ficando cada vez mais revoltas, os tons negros iam cobrindo todos os outros e o som melodioso da água a correr foi sendo abafado por rugidos fortes e assustadores.
Almar começou a ficar assustada e a gritar por socorro, mas quanto mais gritava mais as vozes aumentavam. Começou a sentir-se rebolar com muita força e a faltarem forças nas suas pontas. Tinha dores fortes e começou a chorar muito aflita.
De repente sentiu algo a puxá-la com muita força, assustada desmaiou.
Quando acordou estava toda dorida, mas já não ouvia os gritos nem as cores escuras que tanto medo lhe causaram.
-Tens sido muito desagradável e muito teimosa. Tentei ignorar o que me diziam, mas a verdade é que tens de aprender a ser mais amiga das pessoas.
A voz da rainha estava zangada e o seu rosto também. Almar estava feliz por estar ali com eles, mas ainda não sabia o que tinha acontecido.
Vendo o seu olhar cheio de interrogações Riamar disse-lhe:
-Lembras-te de Popi...aquele leão-marinho que tu tão maltrataste nos últimos dias, pois bem foi ele que te puxou com a sua cauda. Viu-te entrar nas águas proibidas e não hesitou em salvar-te, apesar de todos os males que lhe causaste.
Almar estava admirada. Aquele leão-marinho tão feio e todo torto tinha sido o seu salvador???
-É isso mesmo que precisas de aprender, as pessoas são belas pelo que têm dentro delas e não pela sua aparência. Tu, por exemplo, neste momento tens uma aparência assustadora e, no entanto, não gostamos menos de ti por isso.
Enquanto dizia estas palavras o rei mostrou a sua imagem reflectida num espelho de água.
Almar gritou quando viu a sua aparência.
-Estou um monstro, toda inchada, cheia de nódoas negras e com uma ponta partida...
-Sim, de facto é assim que pareces e o médico não sabe se conseguirás recuperar totalmente a ponta partida, no entanto, espero que tenhas aprendido algo com esta lição. Aqui ajudamo-nos todos uns aos outros. Respeitamo-nos, apesar das diferenças e, desta forma, sempre fomos felizes.
-Desculpem. Fui muito tonta, pois achava que era melhor do que os outros e, na verdade sou apenas uma pequena estrela sem brilho...
-Não, minha filha. Tens um brilho muito especial, apenas tens de o saber usar para o bem e não para o mal.
- Obrigada e prometo que vou ser diferente.
Quando disse estas palavras Almar voltou a ver as belas cores e a ouvir a música que a tinham encantado antes de entrar nas Águas Proibidas.
-Sim minha filha, a beleza está dentro de nós, fico feliz por teres entendido isso.