Bem-vindos ao “Estórias de Bicharocos e Bicharada”, um blogue dos 7 aos 77 anos

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O mar estava em festa

As anémonas deixavam rastos coloridos por onde passavam e batiam às portas dos corais a avisar que todos estavam convidados para a grande festa que teria lugar nessa noite.
Sua majestade o rei Ripopó, o grandioso peixe colorido que governava os mares a Leste da corrente quente estava feliz. Finalmente a sua sobrinha chegava. O rei Ripopó e sua esposa, a rainha Riamar eram muito amados por todos os habitantes. Nada faltava naqueles mares azuis, excepto um filho para completar a felicidade de todos. Quando já ninguém acreditava que isso fosse possível chegou a notícia da morte do irmão do rei que viajava com a sua pequena filha pelos sete mares conhecidos.
Como era viúvo não existia ninguém para tomar conta da pequena. Os reis mandaram um mensageiro para trazer até eles a sua sobrinha.
Hoje era o grande dia, pois ela chegava a Encanto-mar.

Verdadeiros petiscos foram confeccionados, a música ecoava por todos os recantos do mar e todos os peixes escovavam as suas escamas para se apresentarem belos na grande festa que iria realizar-se.
Quando a noite chegou todo o mar brilhava para receber a tão desejada princesa.
Todos se viraram para admirar a sua beleza. Brilhava como um pequeno sol no meio do mar escuro. Era uma verdadeira estrela, uma estrela-do-mar adornada de brilhantes que todos olhavam.
Ninguém esperava que a princesa fosse uma estrela-do-mar, mas por todos foi aceite e por todos amada.
Os dias passavam e os reis estavam cada vez mais encantados com a sua princesa. De tal forma, que não se apercebiam que por detrás de tanto encanto, Almar era na verdade mimada, arrogante e muito convencida.
Habituados à simpatia dos reis, todos estranhavam as atitudes da pequena estrela-do-mar.
Umas vezes puxava as barbatanas aos peixinhos que por ela passavam deixando-os a chorar de dores, outras vezes espetava as suas pontas afiadas no corpo das anémonas que a tentavam distrair, mas o pior era quando pulava com tanta força no colo dos corais que os magoava ficando a rir-se e a gozar.
Na escola todos a evitavam com medo de todas as maldades que ela fazia.
Sempre que alguém avisava os reis das diabruras de Almar, estes riam-se e diziam que era apenas uma criança traquina e que com a idade acabaria por acalmar.
O certo é que o tempo passava e a estrela-do-mar ia tornando-se cada vez mais caprichosa e aumentando a maldade com que a todos tratava.
Em Encanto-mar as marés passavam sem que ela conseguisse um único amigo.
De tal forma que quando chegou a sua festa de anos e os reis mandaram uma carta de coral a todos para os convidar para a festa, ninguém respondeu afirmativamente.
Zangado o rei Ripopó mandou avisar que ninguém podia faltar à festa da princesa e, contrariados, todos se preparavam para cumprir a ordem.
Nessa tarde Almar não foi à escola, pois tinha de experimentar o vestido dourado que estava a ser feito com algas vindas directamente das Caraíbas e pérolas preciosas das ostras mais afamadas.
Depois de experimentar o vestido resolveu sair sem dizer nada a ninguém e, como já se achava bastante crescida dirigiu-se às Água Proibidas. Quando chegou a Encanto-mar todos a avisaram que não havia perigo naqueles mares, todos se respeitavam e tudo era pacífico, com excepção das Água Proibidas.
Ali, apesar da beleza aparente e do encanto das cores tudo era muito mau. Para lá das cores do arco-íris as águas eram revoltas, os terrenos pantanosos e os monstros habitavam naquelas paragens.
Almar achava-se mais corajosa que todos os outros e gozava com os meninos da escola que lhe diziam isso. Chamava-os cobardes e medricas e dizia que um dia lhes iria demonstrar que era a estrela mais corajosa de todos os mares.
Nesse dia encheu-se de coragem e foi até às Águas Proibidas. Quando se aproximava ia abrindo os olhos de admiração, tão belas eram as cores que encontrava pelo caminho. Mas à medida que se aproximava as águas foram ficando cada vez mais revoltas, os tons negros iam cobrindo todos os outros e o som melodioso da água a correr foi sendo abafado por rugidos fortes e assustadores.
Almar começou a ficar assustada e a gritar por socorro, mas quanto mais gritava mais as vozes aumentavam. Começou a sentir-se rebolar com muita força e a faltarem forças nas suas pontas. Tinha dores fortes e começou a chorar muito aflita.
De repente sentiu algo a puxá-la com muita força, assustada desmaiou.
Quando acordou estava toda dorida, mas já não ouvia os gritos nem as cores escuras que tanto medo lhe causaram.
-Tens sido muito desagradável e muito teimosa. Tentei ignorar o que me diziam, mas a verdade é que tens de aprender a ser mais amiga das pessoas.
A voz da rainha estava zangada e o seu rosto também. Almar estava feliz por estar ali com eles, mas ainda não sabia o que tinha acontecido.
Vendo o seu olhar cheio de interrogações Riamar disse-lhe:
-Lembras-te de Popi...aquele leão-marinho que tu tão maltrataste nos últimos dias, pois bem foi ele que te puxou com a sua cauda. Viu-te entrar nas águas proibidas e não hesitou em salvar-te, apesar de todos os males que lhe causaste.
Almar estava admirada. Aquele leão-marinho tão feio e todo torto tinha sido o seu salvador???

-É isso mesmo que precisas de aprender, as pessoas são belas pelo que têm dentro delas e não pela sua aparência. Tu, por exemplo, neste momento tens uma aparência assustadora e, no entanto, não gostamos menos de ti por isso.
Enquanto dizia estas palavras o rei mostrou a sua imagem reflectida num espelho de água.

Almar gritou quando viu a sua aparência.
-Estou um monstro, toda inchada, cheia de nódoas negras e com uma ponta partida...

-Sim, de facto é assim que pareces e o médico não sabe se conseguirás recuperar totalmente a ponta partida, no entanto, espero que tenhas aprendido algo com esta lição. Aqui ajudamo-nos todos uns aos outros. Respeitamo-nos, apesar das diferenças e, desta forma, sempre fomos felizes.

-Desculpem. Fui muito tonta, pois achava que era melhor do que os outros e, na verdade sou apenas uma pequena estrela sem brilho...
-Não, minha filha. Tens um brilho muito especial, apenas tens de o saber usar para o bem e não para o mal.

- Obrigada e prometo que vou ser diferente.
Quando disse estas palavras Almar voltou a ver as belas cores e a ouvir a música que a tinham encantado antes de entrar nas Águas Proibidas.
-Sim minha filha, a beleza está dentro de nós, fico feliz por teres entendido isso.


Texto de Carla Marques - Blogue: Palavras em desalinho (Todos os direitos de autor reservados)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Joaninha


É tão linda a joaninha
A andar de flor em flor
Calminha e redondinha
Faz da sua vidinha
Um bom exemplo de amor!

É vermelhinha e pretinha
Sobe aos caules de mansinho
Com ternura ela avança
Na vida tem muita esperança
Sem pressas... devagarinho!




Texto de Lenita Nabais (Todos os direitos de autor reservados)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Joãozinho reguila

Esta é a história do Joãozinho, um menino muito traquina e irrequieto. O Joãozinho é tão reguila que tudo lhe serve para brincar e pregar partidas. Gosta muito de se esconder e pregar valentes sustos à mãe. A mãe, coitada, dá sempre um grande pulo muito assustada quando ele salta detrás das portas, qual boneco de molas. E embora lhe diga que não a deve assustar, nem deixar os brinquedos espalhados pela casa e desarrumar as gavetas, entre outras traquinices, o Joãozinho volta sempre a fazer o mesmo.

Estarão a pensar “mas se neste blogue só entram estórias de bicharocos e bicharada porque aparece agora a história de um menino?”. É que este menino, de tão reguila e irrequieto que era, andava sempre a fazer marotices aos animais. O Tareco e o Pantufas, o gato e o cão lá de casa, já fugiam dele cada vez que o viam, depois de tantas vezes ele lhes ter feito maldades. O Tareco, com os seus grandes bigodes de gato, era o que sofria mais, o pobre!

- Miaaaaauuuuu! - berrava o Tareco sempre que o Joãozinho lhe escondia o peixinho do almoço. Mas o Joãozinho não o entendia. Não percebia que ele lhe dizia que estava cheio de fome e queria muito comer aquele peixinho.

- Au, au, aaaauuu, auuu! - lamentava-se o Pantufas quando recebia mais um valente puxão no rabo - “Assim magoas-me!” - queria ele dizer mas… o Joãozinho não o entendia.

Mas não pensem que o fazia por mal, não, fazia-o porque não percebia que os animais também têm sentimentos.

Um dia a mamã e o papá do Joãozinho levaram-no a passear ao jardim zoológico. O Joãozinho estava espantado com tantos animais, tão diferentes uns dos outros, uns muito grandes, outros muito pequenos. Estava muito feliz!

Ao passarem pelo recinto do tigre-da-sibéria o Joãozinho ficou espantado.

- Mamã, olha! Um tigre a lamber o outro, porquê?

- Então querido, é assim que eles demonstram que gostam muito um do outro. É a mesma coisa quando vens para o meu colinho e te faço muitas festinhas – explicou-lhe a mãe.

- Ah, sim?

- Sim.

Foram passeando pelo zoo. Os pais lá lhe iam explicando com muita paciência de onde vinha cada animal, qual o seu nome e o que comiam.

Estavam a ver os elefantes a brincar quando o elefante bebé, assustado com um empurrão de outro elefante, se foi aninhar junto da sua mãe.

- Mamã, parece que o elefante bebé está a pedir miminho à mãe como faço contigo quando me magoo.

- E está, Joãozinho!

O Joãozinho ficou pensativo e começou a prestar mais atenção ao que os animais faziam.

Quando passaram pelo recinto dos chimpanzés o Joãozinho ficou muito comovido.

- Oh, a mamã chimpanzé também dá colinho ao bebé dela e dá-lhe beijinhos nos pés como fazes comigo na brincadeira papá!

- Claro – disse o papá – os animais também gostam de brincar.

Quase a terminarem a visita ao zoo, o Joãozinho teve outra surpresa. Desta vez viu uma Mara a dar um beijinho, sim um beijinho!, ao filhote.

De regresso a casa os pais perguntaram-lhe o que tinha achado do jardim zoológico.

- Gostei muito! Obrigada mamã e papá, foi o melhor dia da minha vida. Hoje aprendi uma coisa muito importante.

- Uma coisa muito importante? Qual? – disse o papá.

- Aprendi que os animais também têm sentimentos, que também gostam de brincar… Não compreendia quando vocês me diziam que fazia muitas maldades ao Pantufa e ao Tareco mas agora… sinto vergonha e prometo que nunca mais o faço.

- Que bom – disseram os pais – percebeste que devemos respeitar os animais!

Texto de Helena Paixão (Todos os direitos de autor reservados)


Queres saber mais sobre os animais que participam nesta estória? Então vai ver:
Tigre-da-sibéria:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tigre-siberiano
Elefante:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Elefante
Chimpanzé:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Chimpanz%C3%A9
Mara (ou Lebre-da-Patagónia):
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mara_%28roedor%29

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O Porquinho-da-índia Mimoso


Era uma vez um porquinho-da-índia chamado Mimoso, muito querido por todos. Costumava brincar no pátio com as crianças, com o cão e o gato. Era bem recebido em todos os lugares, por ser pequenino, gordinho e simpático.

Mas, apesar disto, a verdade é que não estava totalmente feliz e satisfeito. O que acontecia era que o Mimoso era muitíssimo guloso e há muito tempo que não lhe saia do pensamento umas maçãs muito madurinhas que avistou num quintal bem perto do sítio onde morava. Pensava tanto nelas, que não conseguia fazer mais nada e isso deixava-o triste.

Os seus amigos preferidos: o gato Fausto e a cadela Kiara estavam preocupados por saberem que ele pensava tanto naquelas maçãs. Isso não ia dar bom resultado, não ia não...

- Au! Au!, dizia Kiara meio zangada. As maçãs não são tuas, são do vizinho, por isso não podes comê-las. Tira-as do teu pensamento.

- Miau! Miau! aconselhava o Fausto. Lembra-te meu amigo que não se deve cobiçar o que é dos outros. É um pensamento muito feio.

Nessas alturas o Mimoso baixava a cabeça meio envergonhado. Sabia que os seus amigos tinham razão. E fazia mil promessas de que não tocaria nelas. Mas, ele sabia o quanto estava difícil esquecê-las!

Um certo dia, o Mimoso resolveu passear sozinho. Saiu de casa, atravessou o quintal e sempre pela berma fez-se à estrada.

Ora correndo atrás de uma borboleta, ora brincando com as formigas, ora rebolando na terra gostosa.


O certo é que se afastava cada vez mais. De repente parou preocupado. Apareciam umas nuvens muito escuras no céu e um vento frio começou a soprar. Será que vinha aí um temporal?

- Espero que não faça trovões, pois tenho medo! – disse o Mimoso.

Mal tinha acabado de falar, ouviu o primeiro trovão, e disse: Tenho que voltar bem depressa para a minha casinha’’.

E girando as patinhas começou a correr. Para encurtar caminho foi por uns atalhos e ao atravessar uma cerca de arame farpado, o coitado quase ficou preso. Mas a chuva começou a cair com tanta força, que o Mimoso rapidamente ficou ensopado até os ossos e como começou a ficar muito cansado procurou um abrigo em baixo de uma árvore. A chuva continuava a cair em grossos pingos.

De repente o Sol surgiu como por encanto no céu azul.

Mimoso levantou-se resolvido a ir embora para casa, mas começou a sentir um cheirinho muito seu conhecido. Levantou o focinho. Que maravilha! Lá estavam na árvore as maçãs madurinhas e cheirosas!

Mas que tentação...

De boca aberta e olhos brilhando de cobiça, o Mimoso começou a dirigir-se para a árvore. Começou a mexer os galhos da macieira com força para que as maçãs caíssem e ele pudesse então comer, comer muito.

Mas, uma maçã muito madurinha teimava em não cair. Mimoso com a sua patinha tentou apanhá-la e perdeu o equilíbrio. Foi então que caiu numa lata de tinta vermelha que se encontrava por baixo da árvore.

- Que é isto? Onde fui cair? Gritou ele muito assustado.

Sacudiu-se então com muita força, mas a tinta não saia. Zangado consigo mesmo foi para casa a fim de limpar-se. Porém ai é que foi o pior, pois ninguém o reconheceu assim pintado de vermelho. Todos fugiram, cheios de medo.

O gato Fausto quase que lhe arranhou o focinho, e por um pouco, a cadela Kiara não lhe mordia.

Aí o Mimoso falou: Amigos sou eu, peço-vos para me esfregarem pois eu fui amaldiçoado por tentar comer as maçãs que não me pertenciam.

Então os amigos ficaram com muita pena do que lhe acontecera e trataram de lavá-lo. Esfregaram, esfregaram...mas a tinta não saiu mesmo.

Resultado: ninguém mais o chamou mais por Mimoso. Agora a sua alcunha era “o vermelho”.

E isso muito o entristecia! Porém, não tanto como a lembrança da feia acção que havia praticado. O gato Fausto e a cadela Kiara tinham razão, a cobiça é de facto muito feia. O Mimoso aprendeu a partir daí que se deve saber aceitar, com humildade, o que a vida nos dá.


Queres saber mais sobre os porquinhos-da-índia? Então vai ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Porquinho-da-índia


Texto de Teresa Escoval (Todos os direitos de autor reservados)

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