
Lilly, a esbelta louva-a-deus, folheava o jornal matinal quando, de repente, o seu olhar se fixou numa apelativa imagem que ilustrava um anúncio não menos aliciante: “Estórias de Bicharocos e Bicharada – Um blogue dos 7 aos 77 Anos”!
Os seus olhos reluziam, impregnados de um entusiasmo crescente, e as ideias atropelavam–se, freneticamente, no seu cérebro ávido de experiências por realizar…
Foi uma manhã calma na Biblioteca Municipal: numa mesa, um pequeno grupo de estudantes – caras risonhas, jeans desbotados, mochilas coloridas, cabelos espetados envoltos num gel brilhante; ao fundo, um homem de meia-idade, fato cinzento, gravata escura, os óculos colados a uma vasta pilha de revistas empoeiradas e, frente ao enorme vitral que abraça a ampla sala, uma secretária exemplarmente organizada na qual Lilly, a bibliotecária, se encontrava envolta nos seus pensamentos sob o som de um teclado ritmado.
O velho relógio bateu as doze horas. A sala estava vazia. Lilly apressou–se a correr as persianas, arrumou uns livros que, delicadamente, foram devolvidos por um grupo de crianças que, entretanto, se fizeram acompanhar da professora primária para seleccionarem o Conto da Semana – um projecto de leitura que Lilly, apaixonadamente, acompanha…
A rua está semi–deserta. A chuva cai, compassadamente, e o frio obriga Lilly a calçar umas luvas que, não fosse a sua destreza habitual, a impossibilitariam de segurar, com ternura e firmeza, a fotografia que recortara do jornal, hoje de manhã.
Os seus olhos astutos procuram o número 17 – a casa da Helena, a proprietária do blogue – esse blogue que a impediu de se concentrar, no seu trabalho, toda a manhã. O vento tenta, em vão, arrancar–lhe a fotografia que, colada ao peito, impele Lilly para um portão em ferro, tons de musgo, e abre portas a um magnifico jardim.
Lilly bate à “porta”. O seu coração dispara aceleradamente e, por breves instantes, pensou recuar, deixar para trás o seu velho sonho de infância. Mas, apesar do nervosismo contagiante, Lilly esperou impacientemente até que o portão se abriu:
Verde intenso, flores multicolores, borboletas acetinadas, um forte cheiro a jasmim recebem Lilly. Os rouxinóis cantam e o sol… A magnifica luz que ilumina este espaço contrasta com o Inverno que se faz notar, lá fora…
Ao longe, Helena, a anfitriã aguarda Lilly. “Sim”, pensa ela, “É perfeita!”. “Lilly será a nova contadora de histórias deste jardim”.
Texto de Carla Alves - Blogue:
Velas ao Vento (Todos os direitos de autor reservados)