Bem-vindos ao “Estórias de Bicharocos e Bicharada”, um blogue dos 7 aos 77 anos

terça-feira, 31 de março de 2009

O importante é...

Uma população inteira de lebres permanecia em intenso burburinho à beira do rio. Os assobios e guinchos ecoavam por todo o vale e o som chegava às restantes populações que eram atraídas pela curiosidade até ao local. Metade da população desconhecia o ocorrido: a lebre Alpina, filha de um conceituado casal humilde com muitos filhos e considerada pelos habitantes do vale como uma aberração da sua espécie, desaparecera sob olhares atónitos de forma inacreditável, simplesmente caminhando sobre as águas do rio como se do solo se tratasse, até o vulto se diluir pelas brumas do fim da tarde.

Algumas lebres roídas de inveja aventuravam-se a entrar na água, convencidas que se uma moribunda era capaz de tal feito, elas também o seriam. Com o orgulho a crescer no focinho entravam na água umas atrás das outras.
- Ploff, ploff, ploff – O som das lebres a mergulharem na água ouvia-se acompanhado de gritos de socorro, aos quais as outras acudiam com canas e lianas para puxar as companheiras para a margem.
Feridas na vaidade, não davam o braço a torcer e justificavam que a Alpina já se teria afogado, que aquele caminhar sobre as águas fora uma ilusão colectiva ou ainda que teria sido possível por uns instantes devido a um arranque a alta velocidade. Tudo servia para não admitirem que a Alpina era uma lebre prodígio com poderes para além do mundo animal. Permaneciam na margem à espera de um regresso amontoando-se em número cada vez maior, como peregrinos num santuário à medida que a notícia se espalhava por outras terras.

As horas passaram e transformaram-se em dias. A margem do rio tornara-se num acampamento de tocas no meio das silvas e das giestas, as lebres enchiam minúsculos cântaros com água do rio que levavam para os abrigos e, apesar do discurso trocista das maldosas que teimavam em desacreditar a Alpina, ninguém parecia disposto a sair dali.
Quase três dias depois, ouve-se um grito ao longe. Alguém avistara um movimento nas águas e apontava para o rio. Todas as lebres se mantinham nas patas traseiras para verem melhor e de súbito, um feixe de luz emerge do cinzento das brumas. Aparece a Alpina caminhando sobre a água mais graciosa do que nunca, dirigindo-se à multidão de lebres na margem que a recebeu em estrondosos chios e aplausos, querendo tocar nela, fazer perguntas sobre tudo o que vira e ouvira, empurrando-se umas às outras de tal maneira que a Alpina era impedida de respirar. Alpina gritou à multidão que se acalmasse, que ela haveria de contar tudo a seu tempo. Fez-se silêncio na margem do rio, quebrado de vez em quando por um espirro, um assobio ou pelo disparo da máquina fotográfica da lebre Paixão, cujo sonho de mostrar os trabalhos ao mundo era motivo de chacota de outras lebres, que longe de a deitar abaixo, criavam nela uma força descomunal para seguir o caminho.
Assim que a ordem se instalou, Alpina começou a relatar a história.
- Na outra margem encontra-se um mundo fabuloso noutra dimensão, a preciosa jóia da existência onde as lebres, os lobos e os homens coexistem em harmonia e amizade, onde a riqueza é repartida de igual modo entre todos para que ninguém sofra privações.

A assembleia solta exclamações de espanto e as lebres que seguiam o caminho da maldade não reagiam, incomodadas. Numa nova tentativa de desacreditar a Alpina, gritaram "mentirosaaaaaaaa!, como sabemos que não inventas toda a história?” – sendo imediatamente silenciadas pelas outras lebres – Silêncio! – ordenara alguém na multidão. Alpina continuava o relato respondendo a perguntas que as mais próximas lhe faziam e, dirigindo-se novamente à multidão, fixando a lebre Paixão nos olhos, continuou:
- O essencial na vida deste lado da margem é estarmos em fascínio constante com o que nos rodeia, mesmo que sejamos perseguidas pelos predadores ou pelo homem que caça porque tudo faz parte do domínio da natureza. A sobrevivência encontra-se em nós e no caminho ou nos sonhos que seguirmos, será construído o destino.
Fixando ainda mais a lebre Paixão, continua:
- O importante é continuar a arranhar a máquina, insistindo nela tantas e tantas vezes quanto forem os desejos porque é assim que se fabricam os sonhos, da massa dos desejos e da força de vontade, nascem os verdadeiros castelos e mais, digo-lhes mais, qualquer uma de vós que tenha o coração puro será capaz de caminhar sobre as águas até a outra margem, basta que siga o passo que só tem uma direcção, para comigo atravessar este rio.

Texto de M. - Blogue: Citadel (Todos os direitos de autor reservados)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Bichinhos brincalhões


Não sei se sabes rimar,
mas sei que podemos brincar
entre os teus braços e o meu olhar
juntos vamos nesta flor cantar!

À cabra-cega ou às escondidinhas
jogos de sempre e histórias de encantar
convido-te para com as tuas pintinhas
na roda te juntares e comigo dançar!

















Somos bichinhos de mil cores
numa fábula queremos entrar.
Afastamos aos pulos todas as dores
pois o que queremos é amar.

Assim aqui vivemos e sorrimos
em comunidade familiar
se és um dos verdadeiros amigos
contigo sabemos que podemos contar!


















Texto de Carla Marques - Blogue: Palavras em desalinho (Todos os direitos de autor reservados)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Lenga-lenga para uma aranha (II)

Tece a teia na aldeia
uma aranha muito feia.
Balanceia, papagueia
e come papas de aveia.
Na areia se bronzeia
até ser hora da ceia.
Quando vê a lua cheia
ela passeia à boleia.
Se pensa comer geleia
toda ela se maneia.
Esta aranha muito feia
que vive na nossa aldeia
quase nunca se penteia.
Seria uma boa ideia
ir visitar a colmeia
e de abelhas a ver cheia.
Mas não sai da sua teia
e se falo ela rabeia
e as patas esperneia.
Na aldeia tece a teia
uma aranha muito feia.


Texto de Luísa Azevedo - Blogues: banana ou chocolate? e Pin-Gente (Todos os direitos de autor reservados)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Lenga-lenga para uma aranha (I)


Bela aranha vem de Espanha,
amarela e não castanha.
Uma teia emaranha,
no meio daquela lenha.
Sopra o vento na montanha
e mais a aranha se empenha.
Vem de Espanha a bela aranha
e uma teia desenha.
Uma mosca logo apanha
que parece um pouco estranha.
O bicho se emaranha,
na bela teia da aranha.
Agora que se amanha
já não quer voltar a Espanha.
Fica cá a bela aranha
mais ninguém lá a apanha.


Texto de Luísa Azevedo - Blogues: banana ou chocolate? e Pin-Gente (Todos os direitos de autor reservados)

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