Bem-vindos ao “Estórias de Bicharocos e Bicharada”, um blogue dos 7 aos 77 anos

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Há males que vêm por bem



Porque todas as histórias começam por “era uma vez”, era uma vez uma lebre que saíra da ninhada com as suas irmãs para ir começar a vida pelos montes e prados, aprendendo a desenvolver os sentidos e procurar o seu alimento. Nas longas corridas com as lebres da povoação, por muito que se esforçasse ficava sempre para trás e chegada ao destino, as outras esperavam-na, umas com cara de piedade, outras de gozo gritando entre elas “lá vem ela toda maneirinha a cair de bruços no chão, subindo a ravina à dentada, ai não consegue não!”

Torce-se toda à chegada, caminha desfasada cambaleando no meio das ervas, sabe que não corre como as outras e que tem uma pata da frente que dói.
Afasta-se para longe do grupo até à margem do rio em passo lento arrastado e sem espírito de alegria, o desgosto de não ser como as outras lebres magoa mais do que a pata que não a deixa correr. Mergulhada na tristeza ouve a voz saída das águas:
- Aproxima-te – sussurra a voz
Olha à volta e não vislumbra ninguém.
- Aproxima-te – repete a voz desta vez com doçura – Olha para ti, és bela!
Obedecendo à voz, a lebre avança receosa até ao fim da margem e vislumbra a figura no espelho da água, o corpo elegante de pelagem castanha e branca. Quando toma consciência dela própria, fica surpresa por ser aparentemente igual às outras mas depressa o deslumbramento dá lugar à tristeza e recua para o meio da margem, desiludida.
- Sei da tua mágoa – prossegue a voz - Tens de provar que de entre elas todas e até dos outros animais, tu és única, mostra-lhes que és capaz de caminhar sobre as águas e saberão que és uma lebre especial porque elas não serão capazes de o fazer. Há males que vêm por bem, um dia quando ouvirem os sons de uma caçada e a aproximação dos cães, tu terás mais caminhos por onde te escapar, basta que atravesses o rio e encontres a segurança na outra margem. É dentro de ti e na natureza que deves procurar o mais belo presente que existe em cada ser vivo, o dom que o torna único no meio dos outros.

A lebre receosa avança de novo para a água e, insegura, coloca devagar uma pata sobre ela e depois outra, maravilhada por não se afundar, ouve o grupo a aproximar-se com as vozes trocistas e entende de súbito que é o momento de decidir. Agora sabe que é alguém, ganha sopro enfiando todo o poder do corpo nas patas traseiras e num porte orgulhoso caminha sobre as águas perante os olhares incrédulos dos que a gozavam desaparecendo no outro lado, o rasto espelhado ainda nítido desvanecendo-se devagar como que querendo fazer durar a marca da sua presença.


Texto de M. - Blogue: Citadel (Todos os direitos de autor reservados)

35 comentários:

Gata Verde 3 de dezembro de 2008 às 22:54  

Que fofo!!!
Gostei imenso do reflexo!

beijinhos

pin gente 3 de dezembro de 2008 às 23:31  

gostei muito!
olá m.!
olá helena!
isto não vai ser um blog vai ser uma grande festa.
beijos às duas
luísa

ps - a foto está fantástica!

Nuno de Sousa 4 de dezembro de 2008 às 00:35  

Uma foto suberba... ainda me lembro desse dia qdo a Helena aflita estava, pois ouvia um barulho estranho... e pensaria ela acho q me vou pirar daqui anda por aqui cobra :-), qdo saltou esta bela lebre correndo pela água em fuga... ela consegue fazer estas fotos maravilhosas e eu consegui captar uns piolhitos da cabeça da Lena... que ficou na minha frente, azar de uns sorte de outros :-)
Uma das tuas melhores fotos de sempre... digna de uma revista.
Parabéns à M. pelo fantástico texto admiravel e como sempre maravilhosamente bem escrito dando cor este post que só poderia estar soberbo.
Parabéns a ambas.
Nuno de Sousa

Anónimo 4 de dezembro de 2008 às 23:39  

Olá

Que este espaço com as cores do imaginário seja bem vindo à blogosfera. Agradeço-te a oportunidade de participar e tenho de confessar que mesmo antes de ver a fotografia, ao ler o pedido que fizeste "vê se consegues escrever uma estória para esta lebre que caminha sobre as águas", ocorreu-me de imediato que teria de ser uma fábula. Portanto lançaste-me praticamente a ideia no pensamento pelo que muito do mérito é teu. Então quando vi de seguida a fotografia não tive mesmo dúvida. Está invulgar, parece uma gravura, em suma está FABULASTICA. E lógico que as boas imagens terão sempre bons resultados.
Muita sorte nesta tua aventura pelo imaginário dos 7 aos 77. Porque atingirá sempre as almas simples,é sucesso garantido.

Um beijo

escape 5 de dezembro de 2008 às 00:51  

that's a very beautiful shot. You captured it at its best. Looks like this photo can be submitted to national geographic.

Anónimo 5 de dezembro de 2008 às 01:15  

Outra delícia de foto e outro texto tão bonito.
Helena, quanta Paixão! ;-)

Tens um mimo no Lugarejo.

Beijitos para as duas e parabéns.
Encanta-me um blog assim, cheio de cor.

Helena de Tróia 5 de dezembro de 2008 às 09:05  

Ola! ADOREI este blog! as duas fotos estão lindissimas, e o texto da lebre fenomenal!!! fiquei fã e seguidora e assim até já tenho mais histórias para contar aos meus piquenos antes de dormir!!:-)). obrigada ainda pela visita ao meu espaço! é lá muito bem vinda!

Rui 5 de dezembro de 2008 às 12:16  

Miga adorei , a foto como o texto, uma ideia um incentivo à creatividade bem miuda estás de parabens ,sem sombra de duvida.beijinhos às duas e parabens mais uma vez.

Anónimo 5 de dezembro de 2008 às 16:34  

Um grande projecto que aqui está, um blogue que vai deliciar muitos olhares tanto pelas imagens como pela escrita.

Uma imagem que já conheço muito bem.

parabéns às duas meninas :)

http://fontesefontanarios.blogspot.com

Fernando Santos (Chana) 5 de dezembro de 2008 às 19:07  

Olá Helena, fotografia soberba...Belo texto...
Beijos

FERNANDINHA & POEMAS 5 de dezembro de 2008 às 23:46  

Olá querida Helena, belíssima foto, bem acompanhada por um maravilhoso texto... Parabéns postagem SUBLIME Amiga!
Bom fim de semana... Beijinhos de carinho e ternura,
Fernandinha

claras manhãs 6 de dezembro de 2008 às 22:18  

Helena!
a foto está espectacular!!!
Uma beleza
O teu texto M, comovente, lindo e nem acrescento bem escrito, porque me ficava mal.

parabéns às duas.

beijinho

Anónimo 6 de dezembro de 2008 às 22:49  

Excelentes fotos que aqui vi! E tão bem emolduradas...

Beijinho

Menina do Rio 7 de dezembro de 2008 às 15:55  

Há um ditado que diz: "Quem não é o maior, tem que ser o melhor". E podemos ser melhores, naquilo que acreditamos!

Um beijo

Eu 7 de dezembro de 2008 às 19:41  

Obrigada por sua presença em meu blog.

Agradeço também as suas palavras!

Adorei tudo aqui!

Aproveito para lhe desejar uma semana repleta de dádivas!

Um abraço carinhoso!

Beijinhos

Luis Miguel Inês 8 de dezembro de 2008 às 13:35  

Excelente foto uma bela lebre que aqui nos mostras.Uma história divertida a acompanhar.Beijo

Anónimo 9 de dezembro de 2008 às 14:55  

É a 1.ª vez que visito este cantinho e só posso dizer: Maravilhoso.

Esta foto que já conhecia e que considero um registo fotográfico de elevada qualidade, em harmonia com um texto fantástico, só poderia mesmo dar-nos um trabalho de grande classe.

Adorei, sinceros parabéns às autoras.

Beijinhos

Anónimo 9 de dezembro de 2008 às 16:38  

Um texto lindo, escrito para uma espectacular foto parabens bjs

RTavares

José Rasquinho 9 de dezembro de 2008 às 22:00  

Aquela que já era uma GRANDE foto, ficou aqui ainda maior, com este bonito texto!
Parabéns amiga, este blog está destinado ao sucesso!

Lenita Nabais 9 de dezembro de 2008 às 23:15  

Parabéns, Lena! Uma bela foto, cheia de arte e reflexos, para uma história "à maneira"! Está lindo o teu blog!
Um abraço XL:)

Anónimo 9 de dezembro de 2008 às 23:56  

Awesome shot. Wish I could capture a Jack Rabbit like this.

Anónimo 10 de dezembro de 2008 às 06:00  

Wow, great capture, nicely composed!

Anónimo 10 de dezembro de 2008 às 06:14  

Such an amazing wildlife image!!! The reflection is just stunning!!!

Miguel Almeida 10 de dezembro de 2008 às 08:19  

Olá Helena,
Primeiro quero agradecer a tua visita e o teu comentário, depois quero agradecer a partilha deste espaço delicioso. A foto é um momento fabuloso, luz, detalhe, reflexo e enquadramento fantásticos. Diverti-me também muito a ler o texto.
*****

Anónimo 11 de dezembro de 2008 às 19:42  

Linda imagem e lindos reflexos. parabéns e obrigado pela visita

Luna 11 de dezembro de 2008 às 22:58  

A foto esta soberba, e o texto acompanha, quantas vezes precisamos nos ver ao espelho e ultrapassar os medos para fazer a diferença
beijos

Alexandrina Areias 13 de dezembro de 2008 às 13:48  

Olá!
Uma foto fantástica...! E a "estória" que a acompanha é fabulosa... Parabéns!
Bom fim de semana!

AA

Unknown 13 de dezembro de 2008 às 16:25  

Excelente momento, bem captado com todo o sentido de velocidade. Parabéns pelas fotos e textos.

isabel mendes ferreira 13 de dezembro de 2008 às 17:32  

a M. num rasto metafórico. recriando o poder das efabulações.

Num registo que desconheciA.

e que fiquei a "a.maravilhar-me"....alma simples :) que sou.

a ft?


esplendor.

Atlantys 14 de dezembro de 2008 às 10:14  

É verdade Helena a blogosfera é muito pequena =)
E acho que disse isto no Flickr també mas acho esta foto simplesmente genial!
Beijinhos, obrigada pela visita e um resto de bom fim de semana, vou voltarmais vezes aqui =)***

Anónimo 14 de dezembro de 2008 às 17:02  

A very nice symetry for this running rabbit !

tr3nta 16 de dezembro de 2008 às 17:19  

UNBELIEVABLE PHOTO... How did you did this???...

Ninni 27 de dezembro de 2008 às 16:51  

Otimo!! I love your photos!!

Jorge Monteiro 28 de dezembro de 2008 às 16:05  

Fantástica!!!!
A lebre parece estar correndo sobre a água...
Parabéns por este belo momento tão bem captado.
Beijinho

LR Photography 4 de janeiro de 2009 às 23:50  

Caminhado por água! Bem apanhada!

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